segunda-feira, 23 de março de 2009

O primeiro AMOR. Os mais belos textos que encontrei pela net...

Naquele tempo éramos felizes. Sabias inventar pássaros multicolores no interior dos meus olhos e sussurrar-me amor, em forma de corações que desenhavas na areia da praia com a polpa macia dos dedos. Mal amanhecia, entravas-me na alma como um raio fulgurante de luz e por lá permanecias, esquecido de ti, até que o dia dava lugar à noite e, no firmamento, uma lua possessiva e enciumada se precipitava, vigilante, sobre nós. Docemente, tecias-me no coração sonhos e promessas com a textura e o sabor do algodão doce.

Eras uma espécie invulgar de mágico. Um ilusionista de afectos e de emoções à flor da pele. Tinhas o raro condão de tudo transformares, em teu redor. À tua passagem, o céu mais tenebroso, tornava-se límpido, o sol mais tímido, sorridente, e tudo o que na natureza, subtilmente, pulsava e respirava, ia ganhando cor, pujança e alegria.

Falavas da vida e das coisas da vida com um entusiasmo tão exultante e contagiante que seria difícil para qualquer um de nós, imaginar, sequer, que um reverso, feito de dor, de tristeza e de pesar te pudesse, algum dia, arrancar de mim pelas raízes, deixando, em teu lugar, um espaço nu e vazio de saudade...

Todas as palavras que proferias eram naturais, delicadas, claras. Jorravam do interior do teu coração com a espontaneidade, a leveza e a simplicidade de quem nada teme, de quem saltita alegre e descontraidamente pelos campos da vida.

Era o tempo das acácias floridas, das suaves fragrâncias a urze e a rosmaninho, do chilreado primaveril dos pássaros, do desabrochar das flores. O tempo do mel a escorrer do interior dos olhos para os lábios e dos primeiros rasgos doces e acidulados da paixão. Um tempo esquecido de pressas, etéreo, quase perdido na perenidade serena de dias longos e risonhos. Um tempo, sempre, recheado de gorjeios infantis, de passeios mão na mão, de beijos ternos em faces afogueadas, de brincadeiras inocentes.

Assim era, o correr dos dias, naquele tempo mágico, de cores garridas. A vida assemelhava-se a um rio transbordante, de águas mornas e cristalinas… E assim poderia ter continuado indefinidamente, até hoje – ou talvez não, quem sabe? - se a morte, essa mulher perversa e fatal, sob a forma de um carro desgovernado, não te apanhasse desprevenido na primeira curva do destino e não te empurrasse, de um modo abrupto e cruel contra um muro, roubando-te, definitivamente de mim, num belo dia de sol, ao entardecer!

Tinhas a ingenuidade generosa dos 15 anos, um rosto perfeito de anjo – onde todos os teus sonhos e os meus se perfilavam – um sorriso ameno e doce, e os olhos verdes mais lindos e ternos que, até hoje, encontrei…

(In “Ilhas de Solidão – Estórias da Vida de Uns e Outros”)

Nenhum comentário: